Hiperatividade Infantil (TDAH)


O Transtorno por déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) tem três sintomas: hiperatividade, falta de atenção e impulsividade. Trata-se da síndrome da conduta, de origem neurobiológica, mais frequente durante a infância. Estima-se que cerca de 5% da população infanto-juvenil, de 3 a 16 anos, sofre, sendo 3 vezes mais frequente nos homens.

Conhecida por TDAH, é uma patologia que se caracteriza pela existência de três sintomas: hiperatividade (movimento contínuo e superior ao esperado para a idade da criança), falta de atenção e impulsividade. Um transtorno que se produz devido a uma alteração do sistema nervoso central. É hoje, uma das causas mais frequentes do fracasso escolar e de problemas sociais na idade infantil. É uma patologia crônica, altamente genética (75%), mas que se pode diagnosticar e tratar.

Hiperatividade, falta de atenção e impulsividade


As crianças que sofrem de TDAH apresentam conduta inapropriada para sua idade. Custa-lhes controlar seu comportamento, suas emoções e pensamentos. Têm uma grande dificuldade para prestar atenção e a concentrar-se. No entanto, nem todas as crianças chegam a experimentar todos os sintomas. Depende muito do tipo de TDAH que tenha.

O fator hereditário influi no seu desenvolvimento chegando a sofrer o problema, 44% das crianças que tiveram pais ou mães hiperativas.

Muitos pais e professores sentem dificuldades para identificar se a criança é portador de TDAH, ou se o que lhe falta é limites, dado que as crianças nesses estados podem apresentar sintomas parecidos.

No caso do TDAH, a criança apresenta sintomas como:

- Inquietude. Move os pés, mãos e o corpo sem um objetivo claro. Levanta-se, salta e corre quando tem que estar sentado.

- Baixa auto-estima, devido sua impopularidade.

- Aborrecimento e excitação excessivos e incontroláveis. Não consegue brincar de forma tranquila. Não respeita a vez dos outros. Excita-se e se aborrece com frequência.

- Grau acentuado de impulsividade. Age antes de pensar. Responde antes que terminem a pergunta.

- Falta de concentração. Não atende aos detalhes, nem à organização, nem as instruções.

- Falta de persistência. Além de não terminar as tarefas, evita as que necessitam de um esforço contínuo.

- Dificuldade para organizar-se e manter a atenção.

- Distrai-se com muita facilidade. Esquece-se do que tem que fazer.

- Surdez fictícia.

Tratamento da hiperatividade infantil


O TDAH é uma patologia pouco conhecida, difícil de detectar e fácil de confundir. A complicação do tipo neurológico se desencadeia em idades compreendidas entre os 3 e 4 anos, alcançando o nível mais crítico aos 6. Os especialistas apontam que as crianças com hiperatividade não tratadas a tempo, terão problemas na adolescência, sofrerão problemas para relacionar-se e inclusive fracasso escolar. No entanto, um tratamento contínuo à medida que a criança vá crescendo, permitirá que o transtorno melhore, e inclusive que se consiga controlar.

A grande dificuldade que apresentam as crianças para atender, selecionar, manter, e controlar a atenção aos estímulos que lhes apresentam, assim como a excessiva agitação que apresentam, justificam a necessidade de uma ajuda e de um acompanhamento profissional. Um especialista ajudará a criança a adquirir hábitos e estratégias cognitivas para que seu desenvolvimento social, familiar, escolar, etc., esteja à altura de suas capacidades. O tratamento tem como objetivo:

- Melhorar ou anular os sintomas do transtorno.

- Diminuir ou eliminar os sintomas associados.

- Melhorar a aprendizagem, linguagem, escrita, relação social e familiar.

Para isso, o especialista empregará, segundo o caso, informação exaustiva aos pais e professores, tratamento farmacológico (imprescindível em 7 de cada 10 crianças), e tratamento psicopedagógico.

Não se deve esquecer que os pais desempenham papel fundamental durante o tratamento. As crianças hiperativas necessitarão muito apoio, compreensão, carinho, e sobretudo muita paciência para que pouco a pouco consigam desenvolver seu dia-a-dia com normalidade.

Síndrome de Peter Pan


Todas as crianças crescem. Peter Pan não. Ele mora na Terra do Nunca e junto com a fada Sininho conhece Wendy, João, Miguel e Naná. Com o pó mágico de Sininho todos eles vão para Terra do Nunca, vivem aventuras incríveis, lutam com os piratas, salvam seus amigos, enfrentam o Capitão Gancho, fazem a comida aparecer com seus pensamentos e ouvem histórias. No fim Wendy e os irmãos voltam para casa e convidam Peter Pan para ficar, mas ele não aceita, prefere permanecer na Terra do Nunca, para nunca crescer e poder brincar com as outras crianças para sempre.

A síndrome de Peter Pan, realmente existe e é utilizada quando se refere aos meninos, que crescem e viram homens, mas só vivem o aqui agora, em busca de aventuras, querendo sempre independência e poder. E claro, o mesmo que Peter Pan queria: não crescer nunca. O único problema é que nosso planeta não é a Terra do Nunca. Os “meninões” com esta síndrome normalmente são bem sucedidos e gastam seu dinheiro com aventuras, relacionam-se com as mulheres como se tudo fosse uma grande brincadeira. È uma vida não levada a sério.

O tempo parou, se sente como garoto, se não mora mais com os pais, mora perto deles, quer a casa impecável, mas não vai se dar ao trabalho de arrumar. A vida é uma grande bagunça. Se casou, a esposa vai tomar conta de tudo, da casa, dos filhos, das roupas. Foge de ouvir problemas de quem quer que seja porque a vida é uma grande aventura. Morre de medo de envelhecer, pode contar piadas bobas o tempo todo, anda com amigos mais novos porque gosta de ser o líder da turma e morre de medo de assumir responsabilidades. Se casamento assusta um homem comum, vai deixar o homem Peter Pan paralisado de medo. A chance de ele sair voando é grande.

Como Peter Pan, vive voando e sempre que alguma coisa acontece foge para Terra do Nunca. Não tem os pés no chão, adora todo e qualquer programa onde possa se sentir um garoto, pode ser o churrasco com a turma, o videogame ou o jogo de poker a dinheiro, muito dinheiro. Ele pode ter por volta dos seus 35 anos, mas ainda morre de medo de casamento, já terminou vários namoros por saber que a mulher queria casar e ter filhos, vive na balada, cada semana uma menina nova, dificilmente se fixa a alguém. Se for o caso, escolhe uma mulher para deixar em casa e continuar vivendo as suas aventuras sempre que possível. Casa por pressão, porque a turma acabou, ou porque a idade realmente chegou, ou porque todo mundo casou, ou porque os pais querem netos, mas o instinto Peter Pan vai junto dentro do bolo.

Tenho certeza que todo mundo que está lendo este texto conhece pelo menos 1 ou 2 Peter Pans. Se quiser ter certeza, veja se ele é egoísta, narcisista, foge de compromissos e de críticas, esbanja seu dinheiro e flerta com todas.

Até dá para entender, crescer não é fácil, sair da escola, ter preocupações e contas para pagar, terminar a faculdade e procurar emprego, ver a idade chegar, os pais envelhecerem. Ninguém gosta de stress. Mas a infância como toda fase passa, e a vida adulta de verdade é ótima também.

Ajude o seu conhecido Peter a encontrar um grande amor ou mande-o direto para sessões de terapia.

COMPULSÃO ALIMENTAR


Impulso incontrolável para comer. A compulsão alimentar pode aparecer em alguns transtornos alimentares como bulimia nervosa e compulsão alimentar periódica.

No caso da bulimia nervosa, a pessoa tem ataques compulsivos, mas depois da perda de controle, purga todo o alimento ingerido.

Já no caso da compulsão alimentar periódica a pessoa não tem controle, come vorazmente, sente-se arrependida, mas não purga, pois não existe a preocupação com o peso e o corpo, como é o caso dos obesos mórbidos.

Na realidade a pessoa que sofre de compulsão alimentar periódica não come pela fome física, aliás, ela não sabe o que é sentir fome, porque quando come é por puro impulso. Este ataque de comer exageradamente é conhecido pelo termo binge eating.

Durante os ataques de binge, o compulsivo alimentar chega a ingerir até dez mil calorias em uma única refeição, tem preferência por guloseimas e se não tiver, come coisas estranhas, do tipo: uma lata de leite condensado, feijão gelado com queijo, lasanha gelada e tudo que estiver ao seu alcance. Depois de um ataque alimentar, muitas vezes vem o arrependimento, a raiva e gera mais descontrole.

Estes episódios de binge eating têm um ciclo vicioso característico:

Vontade de comer algo - comer muito rápido, exageradamente e escondido até acabar a comida - se empanturrar - arrepender - sentir raiva de si mesmo - se deprimir... e assim ciclicamente.

Será que o compulsivo realmente come por falta de vergonha e desleixo, como muitas pessoas pensam. Será que não existe nada por trás desta deformidade corporal?

Tem e têm muita coisa envolvida. A compulsão alimentar e a obesidade mórbida são doenças muito complexas porque tem um conjunto de fatores e complicadores que resultam na doença.Além do hábito alimentar, fator genético e estilo de vida, têm alguns fatores psicológicos e físicos.

No caso da compulsão alimentar periódica está claro que a pessoa não come por puro prazer, por que é desleixada, gorda e sem vergonha. Ela tem uma doença, um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores (mensageiros químicos do impulso nervoso) responsáveis pelo controle da saciedade.

Quando os níveis de serotonina estão baixos, ocorrem a depressão e a tendência ao aumento de peso. Pois a comida, principalmente os alimentos energéticos tipo chocolates, doces, pães e massas, são estimulantes naturais de serotonina. Daí esses rompantes de fome ou vontade de atacar a geladeira.

Na realidade por traz deste comportamento compulsivo existe um problema psiquiátrico camuflado e uma dieta alimentar pobre em nutrientes, facilitando os rompantes de binge. Com o equilíbrio da serotonina e a mudança do hábito alimentar, a pessoa controla a ingestão de doces e fica satisfeita com o que comeu (saciedade).

SINTOMAS:
Apetite exagerado
Vontade incontrolável de comer quando esta triste
Comer exageradamente e rápido demais, pouca mastigação.
Arrependimento e tristeza após os rompantes
Falta de preocupação com o aumento de peso.
Constrangimento social
E o prazer imensurável ao comer ... como uma “criança no parque de diversão”.
CAUSAS:
A compulsão alimentar pode aparecer com um mau hábito alimentar durante as dietas radicais, fazendo com que o corpo crie um mecanismo de estímulo natural, com a ingestão excessiva de comida para equilibrar os níveis de serotonia. Isto acontece demais nas dietas proibitivas.

Após longos períodos de jejum também é comum ter um ataque compulsivo, como é o caso dos comedores compulsivos noturnos, que não comem quase nada durante o dia, e a noite o organismo tende compensar a dieta, comendo exageradamente no período noturno. Muitos acordam para comer e ingerem mais de 50% por cento das calorias diárias nas refeições noturnas.

Nos quadros de depressão pode haver um aumento de apetite principalmente por doces, massas e frituras, que são ótimos estimulantes de serotonia e dopamina. Criando uma dependência química com a comida, uma vez que ela equilibra os níveis bioquímicos do cérebro. Então sob tensão psicológica a comida é uma boa muleta para acalmar.
TRATAMENTO:
O tratamento é multidisciplinar, o compulsivo terá que passar por uma avaliação médica para avaliar a sua saúde e o excesso de peso. Após esta avaliação, se houver problemas psiquiátricos o compulsivo terá que iniciar um tratamento com medicação para equilibrar a química cerebral, e melhorar os níveis de serotonia e dopamina, tratando também de uma suposta depressão. Aliado a isto terá que iniciar um processo de reeducação alimentar, com uma dieta equilibrada, com refeições freqüentes e balanceadas.

OBESIDADE - CABEÇA DE GORDO




Muitas vezes nos deparamos com pacientes de psicoterapia preocupados com um diagnóstico médico recente, ligado ao excesso de peso. Pré-diabetes, pressão alta, síndrome metabólica, inflamação das articulações, hérnias, entre outras parecem surgir do nada na vida desses pacientes, que ficam assustados(as) ao ouvir do médico que precisam urgentemente controlar o peso.


Percebem de repente que estão acima do peso, que seu corpo mudou e consequentemente perderam em eficiência no dia-a-dia. Não sabem, contudo, explicar o que aconteceu, não lembram como e onde passaram a comer mais. Não têm memórias de grandes comilanças que justificassem o ganho exagerado de peso.


Mas por que um psicólogo parece estar escrevendo sobre um problema médico? Porque muitas vezes esse ganho inesperado de peso tem origem em questões comportamentais.


O ato de comer tem características fisiológicas e comportamentais. Como organismos comemos porque temos que sustentar a vida, somos compelidos a comer por instintos bem desenvolvidos ao longo de milhões de anos de evolução. No entanto, também comemos porque é “gostoso” saciar a fome, comemos para agradar a alguém, comemos para aguentar o chefe, comemos até mesmo para lembrar algo bom que aconteceu, ou para anteceder algo bom que irá acontecer (um jantar romântico, por exemplo). Sem perceber começamos a pensar em linguagem comum, com cabeça de gordo, um café passa a ser acompanhado por uma bomba, uma reunião tensa é antecedida por uma bolachinha, a espera de um telefonema importante fica mais agradável com uma ou duas barras de cereais, repetimos um pouco mais porque o cozinheiro caprichou, uma pequena quantidade de comida, nada que pareça ameaçar nosso corpo.


Mas não é bem assim, ao comer um pouco a mais no dia, podemos, ao longo de um ano, aumentar em vários quilos no nosso peso, ainda mais se esse aumento for composto por alimentos ricos em gordura e açúcar, geralmente os mais gostosos.


Quando compensamos sistematicamente qualquer desconforto ou alteração em nosso dia-a-dia com uma quantidade de comida (mesmo que pequena), estamos indo para um caminho perigoso. Primeiro porque isso inevitavelmente afetará o bom funcionamento do organismo, uma vez que estamos ingerindo mais alimento do que precisamos e segundo porque estamos bagunçando nossa vida.


Sim, quando começamos a evitar enfrentamentos com comida, compensar frustrações com comida, adiar problemas para depois do brigadeiro, estamos pensando em função das sensações que a comida nos trás e não em função do que está realmente acontecendo a nossa volta. Estamos pensando com cabeça de gordo.


Aos poucos podemos perder a dimensão das coisas, uma vez que estamos sempre sob o efeito prazeroso da ingestão de comida. Problemas graves e imediatos passam a ser encarados com menos seriedade e presteza. Sensações desagradáveis são constantemente suavizadas. E mais grave: começamos a preferir o prazer de comida em razão a outros prazeres, seja pela facilidade de obtenção e o rápido resultado, seja pelo simples hábito. Quem já não pensou em substituir namoro por chocolate?


A popular cabeça de gordo pode evoluir para transtornos alimentares mais graves, seja para controlar o peso, seja para manter a sensação prazerosa da comida através do aumento exagerado da quantidade desta. E, mesmo que não evolua, pensar com cabeça de gordo inevitavelmente trás desconforto, seja pelo simples ganho de peso, seja por suas complicações, que podem ser graves como a hipertensão ou diabetes.


A capacidade de misturarmos comida e afeto, comida e satisfação, desenvolvida ao longo da história humana, é uma grande qualidade, mas também pode ser uma grande armadilha. Parear comer com outros comportamentos é muito comum em nossas vidas, um almoço de negócios, por exemplo, mas parear a sensação de saciação da fome com o alívio de outras sensações desagradáveis, pensar com cabeça de gordo, pode ser muito prejudicial, tanto a curto quanto a longo prazo.


Categoria: Obesidade // Autoria: Dr. Ricardo Pahl

TIQUES E SÍNDROME DE TOURETTE



O que são Tiques?


De acordo com o DSM-IV, tiques são movimentos involuntários, súbitos, rápidos, recorrentes, não rítmicos e estereotipados. Aparecem também na forma de vocalizações (barulhos). Ocorrem de forma contínua ou em acessos. Às vezes são precedidos por uma sensação desconfortável, chamada de sensação premonitória e frequentemente seguidos por uma sensação de alívio. Geralmente desaparecem durante o sono e diminuem quando da ingestão de álcool e durante atividades que exijam concentração. Ao contrário, são exacerbados pelo estresse, fadiga, ansiedade e excitação. Podem ser suprimidos pela vontade, mas ao custo de elevada tensão emocional.

Os tiques complexos podem organizar-se e serem ritualizados, o que os torna, às vezes, difíceis de diferenciar das compulsões, que seriam precedidas de fenômenos cognitivos (idéias) e acompanhados de sinais autonômicos (ansiedade, palpitações, tremores, sudorese), enquanto que os tiques são geralmente precedidos de fenômenos sensoriais (sensações premonitórias) sendo seguidos de alívio.


Exemplos de Tiques


Tabela 1 – Classificação dos Tiques – exemplificação dos tipos mais frequentes


Tiques Simples

Tiques Complexos

Piscamento dos olhos; Eye Jerking (des-

Gestos faciais; estiramento da língua; manutenção de certos olhares;

vios do globo ocular); caretas faciais;

gestos das mãos; bater palmas; atirar ou jogar; empurrar, tocar a face;

M

movimentos de torção do nariz e boca;

movimentos de "arrumação"; pular, bater o pé; agachar-se; saltitar;

O

estalar a mandíbula; trincar os dentes;

dobrar-se; rodopiar ou rodar ao andar; girar; retorcer-se; posturas

T

levantar dos ombros; movimentos dos

distônicas; desvios oculares (rodar os olhos para cima ou para os la-

O

dedos das mãos; chutes; tensão abdo-

dos); lamber mãos, dedos ou objetos; tocar,bater em ou checar partes

R

minal ou de outras partes do corpo;

do corpo, outras pessoas ou objetos; beijar; arrumar; beliscar; escre-

E

sacudidelas de cabeça, pescoço ou

ver a mesma letra ou palavra; retroceder sobre os próprios passos;

S

outras partes do corpo.

Movimentos lentificados ou inibição; bater com a cabeça; morder a bo-

ca, os lábios ou outra parte do corpo; "cutucar" feridas ou os olhos;

ecopraxia e copropraxia.

V

Coçar a garganta; fungar; cuspir; esta-

Proferição súbita de sílabas inapropriadas, palavras - "ôps", "êpa", fra-

O

lar a língua ou a mandíbula; cacarejar,

ses curtas e complexas incluindo palilalia, coprolalia e ecolalia. Outras

C

roncar, chiar, latir, apitar, gritar, grunhir,

anormalidades da fala como bloqueio da fala.

A

gorgolejar, gemer, uivar, assobiar, zum-

I

bir, sorver e inúmeros outros sons.

S

Adaptado de Hanna (1995)


O que é a Síndrome de Tourette?


É uma síndrome em que aparecem tanto tiques motores como vocais, não necessariamente ao mesmo tempo. Os tiques geralmente aparecem por volta dos sete anos, variando dos 2 aos 15 anos. Em geral, apresentam-se na forma de tiques motores simples, como piscadelas dos olhos. O início das vocalizações ocorre posteriormente ao dos tiques motores, na idade média de 11 anos, frequentemente na forma de pigarro, fungadelas, tosse, exclamações coloquiais entre outras. Em alguns casos os tiques vocais são os primeiros sintomas a surgir. A coprolalia, emissão involuntária de palavras obscenas (palavrões) é encontrada em menos de um terço dos casos. Talvez haja alguma influência cultural, já que é encontrada seis vezes mais na Dinamarca do que no Japão. A copropraxia (gestos obscenos involuntários) é encontrada entre 1 e 21% dos casos. A ecolalia (repetir palavras ouvidas) e ecopraxia (repetir gestos vistos) e a palilalia (repetir as próprias palavras) são encontradas em menos da metade dos casos. Estima-se que um terço dos pacientes apresente remissão completa ao final da adolescência, outro apresente melhora dos tiques e o restante continue sintomático durante a vida adulta. Remissões espontâneas foram relatadas em 3 a 5% dos casos.

A intensidade dos tiques é variável, desde quase imperceptíveis, como um leve levantar de ombros, até tiques aparatosos como saltos ou fortes latidos. As vezes são “camuflados” em atitudes corriqueiras como por exemplo, afastar o cabelo do rosto, ajeitar a roupa e são reconhecidos pelo seu caráter repetitivo. Após a instalação do quadro, os sintomas passam a apresentar flutuação na intensidade, principalmente na adolescência. Uma série de comportamentos se associam à ST, como o hiperativo, o automutilatório, distúrbios de conduta e de aprendizado, além dos sintomas obsessivo compulsivos (SOC). Alguns autores observaram que mais de 40% dos pacientes com a ST apresentavam TOC. Aproximadamente 90% dos portadores da ST tem sintomas obsessivos.


O que causa a Síndrome?


A causa da ST permanece desconhecida. Sabemos da influência de fatores genéticos, neurobiológicos entre outros. Diversas linhas de pesquisa sobre o tema. Abaixo estão listados uma série de achados sobre o tema:

  • Os estudos com gêmeos e famílias tem fornecido evidências de que há uma transmissão genética da vulnerabilidade à ST. A taxa de concordância para a ST entre gêmeos monozigóticos é maior que 50%, enquanto que, para os dizigóticos, é cerca de 10%.

  • Os resultados dos estudos que tentam estabelecer uma relação entre eventos perinatais (relacionados ao parto e nascimento) adversos e a ST são conflitantes. Dois estudos não conseguiram verificar essa associação, enquanto outros encontraram 1,5 vezes mais complicações durante a gestação de mães de crianças com tiques quando comparadas a controles normais.

  • Os tiques apresentam piora diante de eventos estressantes, não necessariamente desagradáveis. Há associação entre o conteúdo dos tiques, seu início e os eventos marcantes na vida das crianças portadoras de ST. Assim, não se devem negligenciar os fatores psicológicos no curso do transtorno.

  • Um grupo de pesquisadores encontrou, em estudos com Ressonância Magnética Cerebral, diferenças estruturais nos gânglios da base e no corpo caloso de portadores da ST. Estudos com Tomografias de emissão (PET e SPECT) revelam, em geral, hipometabolismo e hipoperfusão em regiões do córtex frontal e temporal, no cíngulo estriado e tálamo. Tais achados sugerem alterações no circuito córtico-estriado-talâmico.

  • Os estudos sobre um possível substrato neuroquímico na ST são também conflitantes. A principal hipótese estudada envolve uma hiperatividade dopaminérgica, visto que os neurolépticos, antagonistas da dopamina, geralmente promovem uma grande redução dos tiques. Na mesma linha de raciocínio, os estimulantes como o metilfenidato, a cocaína, a pemolina e a L-dopa causam exacerbação dos tiques.

  • A elevada incidência de ST e tiques no sexo masculino levanta a hipótese de que estejam relacionados à exposição do Sistema Nervoso Central a altos níveis de testosterona e/ou outros hormônios masculinos. Há relatos de casos que envolvem esteróides androgênicos na exacerbação de sintomas da ST entre fisiculturistas que abusam destas substâncias. Há um relato de flutuações dos tiques na ST relacionadas ao ciclo menstrual, com exacerbação na fase pré-menstrual.

  • A presença de anormalidades no Eletroencefalograma (EEG) de pacientes com ST é controvertida. Os achados são insignificantes, não se justificando o uso do EEG na investigação rotineira da ST. As anormalidades encontradas são inespecíficas e não há evidências de atividade paroxística diretamente relacionada aos tiques.

  • Alguns autores sugerem a possibilidade de que tiques, alguns transtornos do movimento, sintomas obsessivo-compulsivos e hiperatividade, possam estar relacionados à presença de anticorpos antineurais (contra o cérebro) decorrentes de infecções estreptocócicas. De fato, algumas pessoas começam a apresentar ou pioram de seus tiques depois de terem infecções de garganta. Entretanto, ainda não é rotina tratar os tiques com antibióticos, seja de forma

    curativa, seja de forma profilática.


Como são tratados os Tiques e a Síndrome de Tourette?


O tratamento da ST consiste em duas abordagens associadas: o tratamento psicossocial e o farmacológico. Antes de inicia-lo, deve-se fazer uma avaliação dos tiques quanto à localização, freqüência, intensidade, complexidade, e interferência na vida diária. O ambiente escolar, familiar, os relacionamentos, os fenômenos associados devem ser investigados e analisados. Faz-se necessário um julgamento criterioso quanto à necessidade de medicação. Até o presente momento, não há tratamento curativo, sendo o medicamento útil no alívio dos sintomas. A filosofia do tratamento é conservadora para evitar a medicação desnecessária, utilizando-a sempre nas menores doses possíveis. Apenas 60% dos portadores requerem medicação supressiva de tiques. O tratamento psicológico inclui orientação aos pais e familiares, àqueles que convivem com a criança, como seus educadores. É importante fornecer informações a respeito da doença, suas características e o modo de lidar com o doente. Deve-se cuidar para que ocorra o mínimo de estigmatização. Evitar atitudes superprotetoras que favoreçam a manipulação da doença por parte da criança.

Quando necessário deve-se indicar psicoterapia. Há relatos de casos tratados com psicoterapia comportamental, embora, em geral, tenha valor limitado. A psicoterapia dirigida ao insight tem sua importância na medida em que estabelece conexões entre os sintomas e os conflitos psíquicos subjacentes, facilitando o seu entendimento e manejo.

Uma técnica dentro da Terapia Comportamental, chamada Reversão de Hábito, tem sido utilizada com sucesso no controle dos tiques. A técnica consiste basicamente em aprender a perceber quando os tiques vão ocorrer para então tentar suprimi-los ou modifica-los. Por exemplo, um tique desagradável e que cause embaraço como acenar para pessoas desconhecidas, pode ir sendo modelado, com esforço e treino, para um comportamento mais aceitável ou imperceptível como passar a mão no cabelo ou no corpo.


Onde Procurar Assistência


Em maio de 1996 foi criada a ASTOC - Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo. Trata-se de uma organização voluntária nacional, que oferece orientação quanto ao diagnóstico e tratamento do TOC e da ST, além de desenvolver várias atividades dirigidas aos seus associados, como palestras, grupos de ajuda, distribuição de material educativo e cadastramento de profissionais interessados em atender pacientes com este tipo de patologia.

Para um primeiro contato com a ASTOC, os interessados podem ligar para (11) 3541-2294 ou pelo e-mail :astoc@astoc.org.br.


Ana Gabriela Hounie

Psiquiatra

Pós Graduada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo